Friday, August 14, 2009

Lost in Translation

Enquanto tradutora, há algumas notícias que me despertam a atenção, principalmente quando questões aparentemente linguísticas e/ou de tradução se relevam importantes tópicos de discussão cultural.
Hoje deparei-me com uma delas. Em resumo, a notícia em questão referia-se a uma decisão de um tribunal Alemão em não punir legalmente o uso de slogans com forte conotação nazi (o que é considerado um crime neste país) desde que estes tenham sido traduzidos para outra língua. Neste caso, trata-se do uso do lema "Blood and Honour" que remete para o lema utilizado na Alemanha de Hitler "Blut und Ehre". O tribunal que decidiu não condenar o seu uso alega que a tradução das palavras representa uma alteração fundamental das mesmas.

Independentemente de concordar ou não com a decisão, devo dizer que esta me desperta as seguintes considerações lógicas:
Se a tradução visa transpor o sentido de um texto (no seu sentido mais abrangente) de uma língua para outra, então aquilo que é proibido na Alemanhã serão as palavras enquanto meros significantes, ou seja, formas ou imagens acústicas. Caso o seu sentido/conteúdo fosse de igual importância, seria igualmente punível a utilização de lemas nazis traduzidos, uma vez que, em princípio, o sentido das mesmas é mantido o mais possível na outra lingua, sendo apenas alterada a sua forma (significante/imagem acústica).

Será que uma pessoa que não domina a língua alemã (grupo em que me incluo) mas conhece e reconhece o lema "Blood and Honour" com as associações culturais implicadas pode usá-lo livremente numa viagem à Alemanha sem perigo de ser punida legalmente?

Por outro lado, se alguém tiver a infelicidade de dizer as mesmas palavras em Alemão numa frase que nada tem a ver com o contexto cultural evocado, usando-as cada uma referente ao seu conceito/significado em separado, pode ser legalmente punida?

Trata-se de uma questão complicada, na minha opinião, e que mexe não só com questões linguísticas como também culturais e de tradução. E, da forma como vejo as coisas, só me ocorrem duas hipóteses: ou a proibição não tem em conta essencialmente o sentido e as conotações culturais das palavras, o que é um absurdo visto ser essa a razão de as palvras serem proibidas em primeiro lugar, ou então assume-se aqui que a tradução não transpõe o sentido dos textos, o que é perigoso.

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